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Movimento docente...
Maria de Fátima Rodrigues Pereira
nos ombros. Este levantava os braços, apalermado, agradecendo por
ser a estrela involuntária de um desfile em plena praça. O mesmo
aconteceu com um mendigo, eleito “presidente”. (Os coadjuvantes
eram, agora, atores principais.). Ao meio-dia, 20 professores da
UFSC desceram a rua em frente ao palácio portando cartazes que
reivindicavam melhores salários para os docentes universitários. A
demonstração trouxe novo alento aos populares. Tanto assim que
alguns deles desceram correndo em direção ao parque do aterro
que medeia a Praça XV de Novembro e a Baía Sul, onde balançava
um balão de gás hélio, com dizeres irônicos: “João, presidente da
conciliação”. Puxado para baixo e estourado, o balão foi arrastado
pela rua e despedaçado.
Eis o cenário do início do processo conhecido como
“democratização na educação catarinense”, durante o qual os
professores estaduais propuseram que o Estado se onerasse da
formação deles, reivindicaram participação de representação na
Secretaria de Educação e no CEE e desvinculação da educação da
formação para a produção. Nesse cenário complexo, contraditório,
de fortes movimentos sociais reivindicatórios, o controle e a
desoneração do Estado vão ser questionados pelos educadores
organizados num movimento marcado por greves, que se desdobrou
no que ficou conhecido como Planejamento Participativo, e pela
elaboração do terceiro Plano de Educação para o Estado de Santa
Catarina.
M
ovimento dos
educadores
e
seu mote
:
democracia
e
cidadania
Os educadores organizados, principalmente, na Associação dos
Licenciados de Santa Catarina (Alisc), face a uma desvalorização de
328% acumulada entre os anos de 1969 e 1983 faziam a primeira
greve no começo da década de 1980, no governo Jorge Konder
Bornhausen (1979-1983). No interior do Estado, a adesão à greve
pela primeira vez foi grande. No inverno rigoroso, em Caçador, as
professoras grevistas, quase sempre reunidas nos salões paroquiais
das igrejas católicas, enquanto cantavam músicas de protestos e
ouviam os líderes da greve tricotavam casacos de lã para vender
sustentar a greve.