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Movimento docente...
Maria de Fátima Rodrigues Pereira
protestos e que, aos poucos, agregava adesões, a maior parte dos
presentes, curiosos e cúmplices, a um só tempo, atentos ao desenrolar
do evento e endossando tacitamente as palavras de ordem (Srour,
1982, p. 887-888). Com a descida do presidente, do governador, das
comitivas e dos seguranças do Palácio do Governo – quando entre
apupos, vaias e apoios tentaram fazer discursos para o calçadão
da rua Filipe Schmith – para visita ao Ponto Chic, um café que se
encontra a duas quadras do palácio e denominado “Senadinho” –
tradicional ponto de encontro de políticos, intelectuais, boêmios e
aposentados, onde o presidente receberia o diploma de amigo do
“Senadinho” –, as manifestações se transformaram em xingamentos
pessoais. Não eram mais os estudantes, mas populares, com
destaque para moleques engraxates, guardadores de automóveis e
office boys. Assim que o general saiu do café, as palavras de ordem se
converteram em palavrões. Figueiredo parou, tirou do bolso um lenço
e passou-o no rosto vermelho. Depois, inesperadamente, enfrentou
um jovem de cabelos compridos que o insultou cara a cara: “Ofensa
pessoal eu não admito, minha mãe não tem nada aver com isso.”
(Srour, 1982, p. 94). Ainda conforme Srour (1982, p. 95), a muito
custo o presidente foi retirado do meio do tumulto: quatro policiais
se empenharam na tarefa de abrir caminho até o carro oficial, que
partiu em alta velocidade, rumo ao município de Palhoça, distante
12 quilômetros da capital. Manifestantes concentrados na Praça XV
de Novembro formaram então um “corredor polonês” e passaram a
chutar e a dar murros nos últimos carros da comitiva. Vários veículos
acabaram extraviados. Porém, a saída das autoridades federais
e estaduais não aplacou a ira popular; ao contrário, a partir daí
os manifestantes se apoderaram da praça e acuaram os policiais
militares.Todas as faixas de saudação foram arrancadas, rasgadas
e queimadas, num delírio festivo. O Palácio Cruz e Sousa foi atacado
com pedras e paus, lançados principalmente contra os vidros das
janelas e contra a sacada onde havia estado o general. O presidente
da OAB-SC tentou intervir, advertindo que toda “desordem só vai
prejudicar” e foi vaiado. Insistiu, apelando para as manifestantes
que acabaram aplaudindo-o em coro: “Ele é nosso, ele é nosso”.
Um vereador arenista, por sua vez, bastante revoltado, insultava
os populares, chamando-os de “comunistas”. A situação se tornou
então divertida, porque um quiproquó se formou: induzida em erro, na
crença de que o vereador apoiava suas ações, a multidão o carregou