Página 157 - cad_pesq_15

Versão HTML básica

157
Movimento docente...
Maria de Fátima Rodrigues Pereira
do cenário de resistência à desoneração e ao controle do estado para
a formação de professores que vinha sendo conduzido desde 1961.
Os preparativos da festa para a chegada da comitiva presidencial
foram grandes; o cenário foi montado com atores principais, com
aqueles que estavam no poder e com os coadjuvantes – o povo e
os funcionários públicos trazidos de todo o estado. Algo de festa
encomendada estava no ar: um balão de gás hélio, suspenso bem
alto no aterro da Baía Sul, que custara 57 mil cruzeiros, saudava
o presidente; bandeirolas nas mãos de crianças e funcionários
públicos; camisetas estampadas com o nome do presidente e do
governador; fogos de artifício beiravam a farsa e a provocação. Em
frente ao Palácio Cruz e Souza, sede do governo do Estado, populares
quando entrevistados pela televisão declaravam abertamente o
seu inconformismo; no trecho costeiro um grupo de donas de casa
recebeu a comitiva presidencial com sonoras batidas em suas panelas
vazias (Srour, 1982, p. 82). Num momento em que o governo do
estado apostava na saudação ao militar presidente, cerca de 30
estudantes do Diretório Central dos Estudantes da UFSC ergueram
seis faixas de protesto, com dizeres relativos às condições de vida:
“Abaixo a fome”, “Não sorria, a panela do povo está vazia”, “Chega
de sofrer, o povo quer comer”, “Abaixo a exploração”, “Por melhores
condições de trabalho”, “Mais arroz e mais feijão”. É com o texto
vivo de Robert Henry Srour, com colaboração de Remy Fontana, que,
hoje nos transpomos de forma que presenciemos os acontecimentos.
Na praça, aglomeravam-se em torno de 4 mil pessoas: funcionários
públicos, escolares, engraxates, motoristas de táxi, muitas crianças,
lúmpen das favelas incrustadas nos morros que circundam o centro
de Florianópolis, manifestação do êxodo do campo e da exclusão
social do homem do campo, office boys, guardadores de automóveis,
comerciários, aposentados.
Os estudantes tinham preparado um panfleto cuja viga mestra
era a carestia de vida, distribuído entre os presentes na Praça XV
de Novembro. Ao ato do desfraldar das faixas, veio a repressão. O
presidente e o governador na sacada do palácio fazendo
discurso que já era respondido com os slogans estudantis
com ecos aqui e ali de coros que os repetiam. De modo geral, os
populares acantonados na praça podiam ser divididos em três fatias:
os raros, que aprovavam os discursos e as manifestações oficiais com
aplausos, talvez um quinto que participava ativamente das vaias e