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Perséctivas político...
Pâmela F. Oliveira e Carlos H. Carvalho
C
idadania
e
D
emocracia
:
os
princípios
da
escola nova
como
ação
política
de
F
rancisco
C
ampos
O movimento da escola nova quis uma educação tendente
a liberar o indivíduo da doutrinação rígida, a torná-lo autônomo.
Tal liberação implicaria uma educação não subordinada aos
poderes políticos — que permitem a introdução, na escola, de uma
classe econômica ou de um grupo privilegiado. A educação não
poderia ser admitida como simples desenvolvimento nem como
adaptação — forçada — a um estado social rígido; antes, deveria
preparar para a vida: deixar a criança em condições de projetar, de
procurar meios de realizar seus próprios empreendimentos, mas
segundo suas concepções, suas capacidades pessoais, sua crença
na possibilidade de tornar a vida mais completa, mais digna. Cada
homem se caracterizaria por um sistema peculiar de ação, algo
próprio, que manifestasse sua liberdade. Como diz Marshall (1967,
p. 73), “a educação das crianças está diretamente relacionada com
a cidadania, e, quando o Estado garante que todas as crianças serão
educadas, este tem em mente, sem sombra de dúvida, as exigências
e a natureza da cidadania [...]”. Assim, a plenitude da cidadania
democrática postulava um direito social reconhecido.
Todavia, a Reforma Francisco Campos propunha uma educação
cuja tarefa era proporcionar o que a natureza não pode dar: a
adaptação do indivíduo ao controle social, subordinação aos poderes
naturais, a regras sociais. Ora, a análise aqui descrita das leis e dos
decretos educacionais expedidos no governo que Campos compunha
permite supor que, numa sociedade em transformação, sempre há
diferença entre o que ela é e o que deseja ser, entre as práticas e os
ideais. Visto que o sistema educacional compõe um projeto político
desenvolvido por Francisco Campos e Antônio Carlos, a escola se
torna espelho da sociedade como ela é; ao mesmo tempo é aparelho
capacitado para dirigir realizações convergentes para os interesses
políticos desses atores em estudo. Essa releitura dos princípios da
escola nova ao gosto dos agentes políticos educacionais da época
mostrou que, com base em tais princípios, eles buscaram legitimar
sua política segundo princípios e bases modernos, assim como
projetar alguns deles na política nacional. Muitos princípios da
escola nova acobertaram mudanças sociais não ocorridas, pois a